sexta-feira, março 14, 2008

(2426) A TIRANIA DA IMAGEM

Anos depois de o PS passar de vermelho a rosa, o PSD sobrepôs o azul ao laranja. Depois de o PS ter substituído o punho pela rosa, o PSD tira duas das suas três setas ao emblema. Não se trata de acasos. O rígido PCP arranjou, a seu tempo, maneira de se encafuar numa CDU que vestiu de azul, arrumando o vermelho para debaixo dos móveis eleitorais. São tentativas de mudanças de identidades sem correspondência na verdade política que cada um representa. Mas que visam atrair os eleitores apesar dos significados reais que os partidos transportam das fundações, das doutrinas e das histórias. Acabo de ver Sócrates prestar-se a uma entrevista política na SIC Notícias vendida à audiência como uma reportagem sobre a vida pessoal do Primeiro-Ministro. O mesmo sucedeu com Luís Filipe Menezes. Apesar de se poder entender estes actos como puro marketing, eles revelam uma faceta essencial da política dos nossos dias. A ideia foi substituída pela imagem. O importante é a emoção que se gera, não a razão do que se diz. É por isso que, paradoxalmente, as mesmas sociedades que consomem estes produtos se queixam do vazio da política. Esquecem-se que, porventura, esse vazio tem precisamente origem na forma como tomam a decisão eleitoral. A luta política que vale a pena é pois a de convencer as pessoas de que a revolução hoje não está nas armas nem na rua mas na mudança do critério de decisão eleitoral. Bem sei: não é fácil. Mas também sei que água mole em pedra dura às vezes fura.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)

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