sexta-feira, setembro 21, 2007

(1654) O ARTIGO QUE NÃO FOI

Hoje deveria estar a escrever sobre as eleições directas no PSD que decorrerão na próxima semana e onde seria suposto escolher-se a alternativa a José Sócrates nas próximas eleições legislativas. Mas não estou. O que o PSD vai escolher é se será Marques Mendes ou Luís Filipe Meneses a perder as eleições. O debate desta semana na SIC Notícias foi esclarecedor. Nenhum deles lá vai. Por várias razões.

A primeira porque à direita do PS tem de se perceber que não há credibilidade para mobilizar. Tudo está visto e experimentado. E não há, sobretudo, diferença que valha a pena. PSD e CDS são matizes de um outro socialismo. Como se viu ainda há três anos quando estiveram no Governo e não fizeram nada do que exigem agora a Sócrates. Chega a ser confrangedor ver o actual CDS e o actual PSD fazerem de conta que fazem oposição.

Hoje também deveria estar a escrever sobre uma excelente reforma do Código de Processo Penal, se excepcionarmos a aberração da proibição de publicação das escutas que estiverem nos processos que já forem públicos. Mas não posso. A pressa com que o legislador quis pôr o Código em vigor, em apenas quinze dias, dando pretexto aos imobilistas do costume para zurzirem na reforma, impede o elogio. Eis um exemplo de como o método pode comprometer uma boa ideia.

Num país onde estamos habituados a jogadas de bastidores subtis para descomprometer muita gente em hora de aperto, não é nada saudável que se instale a suspeita que esta súbita pressa se deve a uma obscura necessidade de comprometer processos e investigações em curso.

Hoje também deveria estar a escrever sobre o excelente momento do desporto português, com medalhas e lugares de honra e inéditos, no judo, no triatlo, no basquetebol, no râguebi, no atletismo. Mas o murro de Scolari impede-me de o fazer. Lamentavelmente, mais uma vez a imagem da selecção nacional de futebol correu mundo pelas piores razões, agravando uma já de si fraca reputação disciplinar em sucessivas competições de Sub’s e de Sobre’s.

Se amanhã houver um desacato ou outra indisciplina num treino ou num estágio da selecção, onde está a autoridade de Scolari? Algures, à procura de um cabelinho…

Hoje, deveria, enfim, escrever sobre as vantagens e os inconvenientes de votar sim ou votar não ao tratado recauchutado que a Presidência portuguesa do Conselho de ministros da União europeia quer aprovar à força já no próximo mês. Mas também não posso. Uma classe política cobardola e sem palavra quer impedir mais uma vez um referendo em Portugal sobre assuntos substanciais da União Europeia. Porque, apesar da prosápia, têm medo de perder e preparam-se para trair a promessa eleitoral feita nas últimas eleições legislativas.
(publicado na edição de hoje do Semanário)

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