sexta-feira, julho 20, 2007

(1350) O TERRAMOTO DE LISBOA

Depois do vendaval das eleições legislativas de 2005, a direita geométrica foi alvo de um terramoto no passado domingo, em Lisboa. Antes de perceber os resultados expressos em votos nas listas, há que perceber a vergonhosa abstenção que se verificou nas eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. Os deuses eleitorais cometeram a facilidade de não brindar o dia do voto com bom tempo. Assim não há desculpas.

Engana-se quem julgar que a elevada abstenção é apenas um voto de protesto contra o Governo. Ele poderá lá estar, é certo. Mas normalmente quando se vota de protesto contra o Governo, vota-se no candidato que se julga que o Governo menos gosta, que menos lhe convém, ou que se pensa que maior mossa lhe pode fazer. Nada disso sucedeu. É por isso que a abstenção de domingo tem de ser encarada como um voto de protesto contra o sistema partidário e contra as patologias do sistema partidário. Os “so called” independentes destas eleições mais não são do que dissidentes dos partidos e não independentes verdadeiros.

Quanto à tal direita, a questão é muito simples. O eleitorado disse que nesta direita não vota. Que nestes chefes da direita não vota. Quando no pior e no mais difícil momento de governação do PS desde as eleições legislativas, os eleitores preferem o antigo número dois do Governo do que o sortido de candidatos que se lhe opunham, isso quer dizer alguma coisa.

Os eleitores pura e simplesmente não se reconhecem nas actuais lideranças dos partidos à direita do PS. E, das duas uma: ou os partidos o percebem e tratam da vida, escolhendo novos líderes, que não estejam comprometidos com anos de desgastes, de trafulhices e de cambalhotas políticas incompreensíveis, conforme os casos, ou o que vai suceder é que nas eleições legislativas de 2009 em vez de um terramoto, vai ser preciso chamar uma nova Arca de Noé, para salvar o que restar.

Claro que no meio disto tudo, Lisboa, que era o que interessava mesmo nestas eleições, não pode dormir descansada. Sem maioria António Costa vai ter de arranjar muitos Ferraris e muitos burros para disfarçar aquilo que não vai poder fazer até às próximas eleições daqui a dois anos. Vai haver muita propaganda e pouca reforma. Daqui a seis anos Belém espera-o e há que preparar convenientemente o percurso. Quem perde? É, obviamente, Lisboa.
(publicado na edição de hoje do Semanário)

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