Há quem atribua o nosso atraso à pequenez das nossas elites. Elas são propulsoras de maus exemplos cívicos. Por vezes, as elites até escrevem bem, acertam na sintaxe, possuem vocubulário. Ostentam conhecimentos raros, que brilham no meio da indigência quotidiana dos portugueses comuns. Cai bem lutar por Aristides Sousa Mendes, que o comum do cidadão não conhece e os que conhecem, conhecem apenas a parte que lhes deixam conhecer (não há História perfeita, não há...). Exibem até curriculuns profissionais brilhantes nas respectivas áreas de formação. Uns fizeram pontes, outros são artistas, além foram projectistas, estrategos, arquitectos. Outros ainda são advogados, outrora apenas da escola de Coimbra, hoje democratizada por todo o território nacional, numa distribuição socialisticamente correcta da mesquinhez e da pequenez em que sempre viveu a nossa Universidade, educada na reverência balofa aos poderes. Mas elas têm uma vulnerabilidade: o amor ao penacho, a rendição ao tacho, a cedência à mordomia, que normalmente é sinónimo de motorista pago pelo Estado, secretária para atender telefones e um gabinete. Ah!, o gabinete! Um extâse de importância, um sinal distintivo de superioridade perante quem tem um mero escritório ou, mais rasca ainda, quem se limita, oh! cúmulo da rasquice, a simplesmente trabalhar na empresa. Ele são Alto-Comissários, ele são Alto-Qualquer Coisa, desde que venha no pacote a Excelência, o Dr., o Engenheiro (ai os diplomas, que loucura social de mercado!). Etc. e tal. Além desta vulnerabilidade as elites têm outra: a ganância. Nunca se contentam. Querem sempre mais. Nem que seja um part time. Pular num modesto mês do Tribunal Constitucional para o ministério, daria romance imortal em Eça. Agora, convenhamos, tratar da frente ribeirinha de Lisboa e, em simultaneo, ter de suportar o mandatarinato eleitoral de António Costa, ou de outro qualquer, nem romance de cordel do século XIX justificaria. É feio, mas pouco para merecer papel e mais verbo.
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2 comentários:
BRAVO!
-Ninguém descreve o Portugal de hoje melhor do que Eça o escreveu no sec.XIX. Desde o infelizmente verdadeiro "Portugal é Lisboa, o resto é paisagem", áquele final dos Maias, em que correm atrás, sempre atrás do americano para não perderem o progresso. É só incapazes!
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