Esta semana ficou à vista por que razão não pode existir o referendo ao Tratado de Lisboa. Com a reacção das potências europeias à independência do Kosovo ficou bem à vista que nenhum tratado muda a realidade, mesmo que o discurso romântico invente uma União que só existe quando interessa. As potências europeias decidem o que entendem quando entendem, de acordo com os seus superiores interesses soberanos. Os outros assistem ou vão atrás. Sempre assim foi e sempre assim será, mesmo que disfarcem esse unilateralismo através de votações por maioria qualificada no Conselho da União.
Existem muitos precedentes de declarações unilaterais da independência na Europa. Estónia, Letónia, Lituânia, Eslovénia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, são apenas alguns. A diferença é que nenhum destes novos países declarou a independência como protectorados ou da ONU ou da União Europeia.
Não foi assim com o Kosovo. A independência deste novo país é fictícia. E a Europa tolera mal as ficções. O Kosovo é actualmente um país sob supervisão internacional, no palavreado da ONU e na prática das potências europeias. Se juntarmos à ficção da independência a compreensível irritação da Sérvia onde já não está o tenebroso Milosevic e da Rússia, onde já não está o dócil Ieltsin, temos o cenário perfeito para mais uma história interminável que não promete nada de bom.
As independências dos Estados nasceram sempre de duas coisas: da vontade um povo, somada à vontade de uns Estados competirem contra os outros. No caso do Kosovo, talvez a segunda tenha sido mais importante que a primeira. Talvez alguns Estados tenham estimulado demais o povo, animados da concorrência geo-política com a Rússia. Só que Putin não é Ieltsin, nem a Rússia actual é a CEI.
Parar uma guerra, fazer intervenções humanitárias? Nada a opôr. Mas partir daí para alterar de sopetão equilíbrios geo-estratégicos que não nos dizem directo respeito é perigoso e temerário. Até porque as piores consequências da temeridade nos poderão cair em cima.
Mas esta é a Europa verdadeira que o discurso oficial dos Jerónimos oculta aos cidadãos, mas que se revela em todos os momentos de tensão. Como cidadão português gostava muito de saber qual a posição do Governo sobre este assunto, independentemente do momento que escolher para a pôr em prática. Como é óbvio, para usar o léxico em vigor nas Necessidades, fica para depois.
Existem muitos precedentes de declarações unilaterais da independência na Europa. Estónia, Letónia, Lituânia, Eslovénia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, são apenas alguns. A diferença é que nenhum destes novos países declarou a independência como protectorados ou da ONU ou da União Europeia.
Não foi assim com o Kosovo. A independência deste novo país é fictícia. E a Europa tolera mal as ficções. O Kosovo é actualmente um país sob supervisão internacional, no palavreado da ONU e na prática das potências europeias. Se juntarmos à ficção da independência a compreensível irritação da Sérvia onde já não está o tenebroso Milosevic e da Rússia, onde já não está o dócil Ieltsin, temos o cenário perfeito para mais uma história interminável que não promete nada de bom.
As independências dos Estados nasceram sempre de duas coisas: da vontade um povo, somada à vontade de uns Estados competirem contra os outros. No caso do Kosovo, talvez a segunda tenha sido mais importante que a primeira. Talvez alguns Estados tenham estimulado demais o povo, animados da concorrência geo-política com a Rússia. Só que Putin não é Ieltsin, nem a Rússia actual é a CEI.
Parar uma guerra, fazer intervenções humanitárias? Nada a opôr. Mas partir daí para alterar de sopetão equilíbrios geo-estratégicos que não nos dizem directo respeito é perigoso e temerário. Até porque as piores consequências da temeridade nos poderão cair em cima.
Mas esta é a Europa verdadeira que o discurso oficial dos Jerónimos oculta aos cidadãos, mas que se revela em todos os momentos de tensão. Como cidadão português gostava muito de saber qual a posição do Governo sobre este assunto, independentemente do momento que escolher para a pôr em prática. Como é óbvio, para usar o léxico em vigor nas Necessidades, fica para depois.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
1 comentário:
-Já houve estados que decretaram unilateralmente a independência, mas eram estados e não regiões. Muitos dos que por cá aplaudem, gostaria ouvi-los se a Madeira ou os Açores seguissem esta via. Para que o Kosovo seja independente terá a U.E. de pagar o financiamento daquele estado(?).
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