
Existem muitos precedentes de declarações unilaterais da independência na Europa. Estónia, Letónia, Lituânia, Eslovénia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, são apenas alguns. A diferença é que nenhum destes novos países declarou a independência como protectorados ou da ONU ou da União Europeia.
Não foi assim com o Kosovo. A independência deste novo país é fictícia. E a Europa tolera mal as ficções. O Kosovo é actualmente um país sob supervisão internacional, no palavreado da ONU e na prática das potências europeias. Se juntarmos à ficção da independência a compreensível irritação da Sérvia onde já não está o tenebroso Milosevic e da Rússia, onde já não está o dócil Ieltsin, temos o cenário perfeito para mais uma história interminável que não promete nada de bom.
As independências dos Estados nasceram sempre de duas coisas: da vontade um povo, somada à vontade de uns Estados competirem contra os outros. No caso do Kosovo, talvez a segunda tenha sido mais importante que a primeira. Talvez alguns Estados tenham estimulado demais o povo, animados da concorrência geo-política com a Rússia. Só que Putin não é Ieltsin, nem a Rússia actual é a CEI.
Parar uma guerra, fazer intervenções humanitárias? Nada a opôr. Mas partir daí para alterar de sopetão equilíbrios geo-estratégicos que não nos dizem directo respeito é perigoso e temerário. Até porque as piores consequências da temeridade nos poderão cair em cima.
Mas esta é a Europa verdadeira que o discurso oficial dos Jerónimos oculta aos cidadãos, mas que se revela em todos os momentos de tensão. Como cidadão português gostava muito de saber qual a posição do Governo sobre este assunto, independentemente do momento que escolher para a pôr em prática. Como é óbvio, para usar o léxico em vigor nas Necessidades, fica para depois.
(publicado na edição de hoje do Semanário)
1 comentário:
-Já houve estados que decretaram unilateralmente a independência, mas eram estados e não regiões. Muitos dos que por cá aplaudem, gostaria ouvi-los se a Madeira ou os Açores seguissem esta via. Para que o Kosovo seja independente terá a U.E. de pagar o financiamento daquele estado(?).
Enviar um comentário