A decisão de construir o novo aeroporto no concelho de Benavente não pode deixar de suscitar diversas perplexidades que dizem respeito a todos os portugueses.
A primeira é a seguinte: o Governo prepara-se para compensar os municípios abrangidos directamente pelo impacto da construção do aeroporto na Ota pelos prejuízos causados pela mudança da localização. E nós perguntamos: e como tenciona o Governo compensar os contribuintes pelos prejuízos que resultam do gasto, ao longo de anos, de milhões e milhões de euros em estudos, pareceres e candidaturas para a construção de um aeroporto que se confirmou agora ter sido muito mal estudado ao longo de décadas pela Administração Pública?
A segunda é a seguinte: como explica o Governo que num ápice tenha sido convencido por um estudo feito em três meses de que a localização na Ota era um desastre e que a localização em Benavente é melhor? É verdadeiramente surpreendente como um Primeiro-Ministro que repetiu à exaustão que estava tudo estudado e bem estudado, desde há décadas, e que não existiam alternativas, apenas numa semana tenha descoberto um estudo melhor e uma alternativa melhor.
A terceira é a seguinte: depois da catadupa de disparates que disse sobre o aeroporto na margem sul, como é possível continuara a dar mais do que meio chavo de valor e crédito às afirmações do ministro Mário Lino? Como é admissível que o ministro continue, impávido e sorridente a caminho do deserto onde não há escolas, hospitais, hotéis e gente?
A quarta é a seguinte: o que vai suceder à NAER? O sítio já se sabe, pifou. E o resto? E a despesa inútil que foi feita?
Poderíamos prolongar as perplexidades e as dúvidas.
Mas importa dizer o seguinte: o que sucedeu com o aeroporto constitui a maior machadada na credibilidade política do Governo e do Estado. Conclui-se que quando estuda o Estado estuda pouco, estuda mal, e, suspeita-se legitimamente, estuda muitas vezes por encomenda política.
Como sempre afirmámos, a decisão de construir e a decisão da escolha da localização de um novo aeroporto é, por natureza, eminentemente política. E foi-o, em todo o seu esplendor. A primeira e a segunda.
Há muita coisa para discutir sobre o aeroporto e para discutir politicamente. A discussão recomeça agora, ou melhor, começa, já que a propósito da Ota ela nunca chegou a fazer-se a este nível e prolongar-se-á, estamos certos, por vários anos. Não para reeditar a polémica oitocentista dos perigos do caminho de ferro, mas para decidir coisas tão acessórias como os interesses legítimos e os interesses ilegítimos, o modelo de desenvolvimento, a tal cidade aeroportuária e as consequências que todo este brutal investimento vai ter no futuro, não apenas do eixo Lisboa-Setúbal, mas em todo o país.
Durante décadas o país deixou andar a carruagem da Ota. Que não seja por dispormos agora de uma decisão melhor, que o país se demita de fazer a discussão que continua a ser necessária.
A primeira é a seguinte: o Governo prepara-se para compensar os municípios abrangidos directamente pelo impacto da construção do aeroporto na Ota pelos prejuízos causados pela mudança da localização. E nós perguntamos: e como tenciona o Governo compensar os contribuintes pelos prejuízos que resultam do gasto, ao longo de anos, de milhões e milhões de euros em estudos, pareceres e candidaturas para a construção de um aeroporto que se confirmou agora ter sido muito mal estudado ao longo de décadas pela Administração Pública?
A segunda é a seguinte: como explica o Governo que num ápice tenha sido convencido por um estudo feito em três meses de que a localização na Ota era um desastre e que a localização em Benavente é melhor? É verdadeiramente surpreendente como um Primeiro-Ministro que repetiu à exaustão que estava tudo estudado e bem estudado, desde há décadas, e que não existiam alternativas, apenas numa semana tenha descoberto um estudo melhor e uma alternativa melhor.
A terceira é a seguinte: depois da catadupa de disparates que disse sobre o aeroporto na margem sul, como é possível continuara a dar mais do que meio chavo de valor e crédito às afirmações do ministro Mário Lino? Como é admissível que o ministro continue, impávido e sorridente a caminho do deserto onde não há escolas, hospitais, hotéis e gente?
A quarta é a seguinte: o que vai suceder à NAER? O sítio já se sabe, pifou. E o resto? E a despesa inútil que foi feita?
Poderíamos prolongar as perplexidades e as dúvidas.
Mas importa dizer o seguinte: o que sucedeu com o aeroporto constitui a maior machadada na credibilidade política do Governo e do Estado. Conclui-se que quando estuda o Estado estuda pouco, estuda mal, e, suspeita-se legitimamente, estuda muitas vezes por encomenda política.
Como sempre afirmámos, a decisão de construir e a decisão da escolha da localização de um novo aeroporto é, por natureza, eminentemente política. E foi-o, em todo o seu esplendor. A primeira e a segunda.
Há muita coisa para discutir sobre o aeroporto e para discutir politicamente. A discussão recomeça agora, ou melhor, começa, já que a propósito da Ota ela nunca chegou a fazer-se a este nível e prolongar-se-á, estamos certos, por vários anos. Não para reeditar a polémica oitocentista dos perigos do caminho de ferro, mas para decidir coisas tão acessórias como os interesses legítimos e os interesses ilegítimos, o modelo de desenvolvimento, a tal cidade aeroportuária e as consequências que todo este brutal investimento vai ter no futuro, não apenas do eixo Lisboa-Setúbal, mas em todo o país.
Durante décadas o país deixou andar a carruagem da Ota. Que não seja por dispormos agora de uma decisão melhor, que o país se demita de fazer a discussão que continua a ser necessária.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
1 comentário:
-Quanto aos verdadeiramente lesados na Ota, estou a falar dos proprietários de terrenos, cuja posse seja anterior a pelo menos 1995, admito que possam ser indemnizados, mas parce, pasme-se, que esses precisamente não o serão, preferindo o governo transferir directamente os dinheirinhos para as autarquias realizarem os investimentos. Os habituais culpados pelas derrapagens em tudo quanto é investimento público, não deixarão de agradecer.
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