sexta-feira, dezembro 28, 2007

(1932) PODER TOTAL

Serviços de informações, RTP, TVI, CGD, BCP, a sacrossanta PT que a todos emprega e para tudo serve, tudo José Sócrates tem vindo paulatinamente a chamar ao seu controle. Isto sem descer aos pormenores. O que surpreende não é a gula do PS em relação a tudo quanto mexe e a tudo quanto manda alguma coisa que se veja. O que surpreende é a facilidade com que Sócrates tem construído o seu império de poder. Sem um arremedo de dificuldade, sem sombra de tumulto, sem luta, sem oposição. A oposição, aliás, quando decide dar a sensação que existe, invejosa e pedinchona, limita-se a pedir um lugarzinho, em vez de pôr em causa o sistema.

Metodicamente, sem dor, sem reparo, José Sócrates tem vindo a construir o seu império de poder. Sem ai nem ui. Certamente perante a indiferença do cidadão comum, que continua a preferir votar nos mesmos partidos por preguiça e alheamento e por medo de arriscar. Os cidadãos, aliás, parecem preferir viver a sua vida, aliás, cada vez mais difícil, no dia-a-dia, do que dar-se a maçadas políticas. Sócrates sabe melhor que ninguém que esta indiferença joga a seu favor. E usa-a despudoradamente.

A obra é tão “perfeita”, que nem faltam dois pequenos sinais de liberdade. Cavaco Silva em Belém e os Gatos Fedorentos na RTP. Um, cooperador, lá vai vetando umas normas jurídicas cirúrgicas de algumas leis cirúrgicas para fazer prova da sua utilidade política e para assessorar, ajudar e apoiar o Governo, não para corrigi-lo. Pressuroso e cooperador, também José Sócrates corre a corrigir as normas vetadas dessas leis, nada de especialmente importante e a obedecer prontamente às dúvidas presidenciais.

Os segundos, são a melhor prova de liberdade no canal de televisão do Estado. Gozam com o diploma do Primeiro-Ministro, com o inglês técnico, com os tiques e os toques do Primeiro-Ministro. São utilíssimos a Sócrates. Humanizam-no, onde parece frio e implacável. Magnânimo e liberal, todas estas “enormidades” José Sócrates atura, com inultrapassável tolerância democrática. Os alinhamentos dos telejornais e os lugares da Administração é que interessam. O que querem mais afinal?

Não queremos nada. O que havíamos de querer?

Tudo quanto sai fora do raio de Cavaco Silva e Ricardo Araújo Pereira é triturado. O que temo é que Sócrates seja mais uma reencarnação do Portugal profundo que ancestralmente quer sopas e descanso. Do mesmo Portugal que prefere o despotismo à responsabilidade cívica. Não do blogue com o mesmo nome de quem José Sócrates apresentou uma queixa-crime apenas porque tratou com seriedade um problema de seriedade.

Parece que não há maneira de sairmos da cepa torta.


(publicado na edição de hoje do Semanário)

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