sexta-feira, novembro 23, 2007

(1940) PORTUGAL E A VENEZUELA

(Em casa)

José Sócrates, que enxotou o Dalai Lama, como se este fosse portador de uma doença política contagiosa, decidiu meter-nos Hugo Chavez em casa. Nestas duas atitudes, revela-se todo um cosmos.

O Estado português tem vários interesses estratégicos em ter boas relações diplomáticas com a Venezuela. Temos uma numerosa comunidade emigrante a viver na Venezuela e temos várias e importantes empresas com interesses no país.

Claro que não falo das relações entre a Fundação Mário Soares e a Venezuela. Para surpresa nossa mas perante a indiferença geral, Hugo Chavez declarou publicamente em Portugal que a Fundação Mário Soares tem recebido vários apoios financeiros da Venezuela, o que é susceptível de levantar muitas sombras e dúvidas sobre a natureza do empenhamento de Mário Soares em intermediar Chavez e o mundo e sobre as declarações públicas a favor do Presidente da Venezuela que tem proferido em várias entrevistas.

De que país e de que político falamos quando falamos de Chavez?

Falamos de um país em que a RCTV relatou, enquanto podia emitir, perto de 100 agressões físicas a jornalistas à Organização dos Estados Americanos e a Globovisión mais de 70. Falamos de um país em que um jornalista pode ser preso por publicar uma notícia pela simples razão de o visado dizer que se sentiu ofendido com a peça.

A inflação acumulada nos últimos três anos levou a uma grande perda de poder de compra dos venezuelanos. É difícil arranjar produtos alimentares de primeira necessidade como leite, açúcar, farinha, frango. Arranja-se, mas é no mercado negro, por preços obviamente exorbitantes, bem acima do valor real dos bens, assim do género do que sucedia na União Soviética. Desde que Hugo Chávez chegou ao poder, a produção da quinta maior potência petrolífera do mundo caiu 18 por cento e a descoberta de novas reservas desacelerou enquanto o preço do barril aumentou no mesmo período seis vezes.

Quanto ao homem, já se sabe. Fala horas, muitas, a fio nas televisões que lhe apetece e quando lhe apetece, fecha as que lhe apetece, insulta quem lhe apetece, ameaça quem lhe apetece, julga-se vítima de perseguição universal por ser de origem mestiça, altera manuais escolares a bel-prazer para começar bem cedo a lavagem ao cérebro das criancinhas e quer ser Presidente até morrer, não hesitando em mudar a Constituição para a adaptar aos seus caprichos pessoais.

Numa palavra: um paraíso.

A pergunta agora é: temos de meter o homem em nossa casa para ter boas relações com a Venezuela? A resposta é: não, não temos.

E as figurinhas diplomáticas que José Sócrates faz são politicamente deprimentes. É a diplomacia saloia de quem gosta de se dar bem com os fortes e despreza os fracos, independentemente de valores e de princípios. E, acresce, não compensa. A não ser, talvez, a alguns interesses particulares. Mas desses não cura, espera-se, o Governo.

2 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Caro Jorge.

Já reparou que as medidas de chavéz para se eternizar no poder são bastante aplaudidas pela esquerda portuguesa, Sócrates incluído. Não são mais que meras tentativas de reproduzir na Venezuela os resultados alcançados por João Jardim na Madeira, atravéz do voto livre e sem mudar uma vírgula à legislação?

Porque é que na Venezuela é revolucionário o mesmo que em Portugal, as mesmas pessoas consideram "Deficit democrático" e "Fascismo" ?

António de Almeida disse...

-Duas breves considerações, a fundação Mário Soares, bem que poderia estabelecer base no Irão, e deixar por lá o seu fundador, também tem petróleo, e nós ficávamos um pouco livres dos disparates do sr. para além de que a sua campanha anti-Bush, encontraria eco por lá. A segunda, aos venezuelanos, como prenda de Natal, se dependesse da minha vontade, oferecia-lhes o meu 25 preferido, o 25 de Novembro, para se livrarem dos disparates de cariz vermelho.