quinta-feira, abril 19, 2007

(899) O ESTILO DO SISTEMA

O Presidente da República prometeu e cumpriu. Está publicado aquilo a que Cavaco Silva chamou de “livro de estilo” da função presidencial. Pode ter-se, se os polícias do politicamente correcto estiverem pelos ajustes democráticos, várias concepções sobre o sistema de Governo. Pode perfilhar-se um sistema parlamentarista puro, presidencialista, semi-presidencialista. Mas, abstraindo do sistema preferido de cada um, é certamente possível ter várias interpretações do sistema semi-presidencialista que vigora em Portugal. A prova disso é que cada Presidente da República teve a sua e, por vezes, o mesmo Presidente teve várias.

Em Portugal o que conta é o estilo. Cavaco Silva, o tal que não é político profissional, sabe-o profissionalmente melhor que ninguém. E, por isso, optou por anunciar um livro de estilo. Podia ter anunciado muitas coisas, mas não, optou pelo livro de estilo. E o estilo de Cavaco Silva, digo eu, não é o mais conveniente para o país. Sei que a maioria dos eleitores assim não achou. Paciência.

O que me interessa a mim saber é o programa político do Presidente e conhecer os critérios com que pretende usar os poderes parcos que tem. Um exemplo. O que é para o Presidente a boa e a má moeda. A má moeda inclui uma licenciatura trapalhona? Não sabemos. Mas já sabemos que numa coisa o “estilo” não condiz com aquilo que o Presidente afirma. Em matéria de referendo europeu, Cavaco Silva afirmou que como ele tinha sido prometido pelos partidos tinha de se fazer. Isto foi em 2005. Agora, o Presidente que está preocupado em cumprir as promessas incentiva os partidos a violar o seu compromisso, pedindo-lhes que não façam o referendo europeu.

Podem chamar-lhe estilo. Eu chamo-lhe outra coisa. E não é bonita.

O estilo é o alimento do sistema. Por isso, a outra face da “boa” moeda, José Sócrates, também privilegiou o “estilo”. Montou laboriosamente uma imagem oficial. Para sair bem na televisão. Para impressionar nos cartazes. E, afinal de contas, o estilo ruiu como um castelo de cartas. É por darmos mais importância ao estilo do que à substância que estamos como estamos. Ao ponto de, depois da célebre entrevista de José Sócrates à RTP, que como se viu não foi definitiva, toda a gente se ter posto a discutir não a substância das declarações do Primeiro-Ministro, mas se tinha ou não sido convincente. Mais uma vez: se o estilo das explicações tinha “pegado” lá em casa do telespectador.

Ora bem: o “estilo” pode ser a morte do artista. E quando a substância mostra a sua cara ao mesmo tempo que o estilo, vê-se como os políticos são vazios e, afinal, um simples produto da publicidade.
(publicado ne deção do Semanário)

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