Calcorrear os bairros históricos de Lisboa podia ser um momento único. Um reencontro com a história de Lisboa. Um tempo agradável de contacto com a mística de Lisboa. Um roteiro de factos que foram fazendo Lisboa a pulso, à força de histórias de vida que tiveram o sortilégio de ganhar a eternidade. Mas não é. É uma experiência desgradável, de puro convívio com lixo, com buracos nos passeios e nas ruas e com um espaço urbano pouco preservado. Hoje aconteceu-me em Alfama e na Mouraria. Quem subisse a Rua dos Cavaleiros a partir do Martim Moniz dir-se-ia num subúrbio do terceiro mundo, tanto era o lixo na rua. As coisas não melhoravam para quem descesse pelo Largo da Severa e pela Rua do Capelão, para ver a casa onde nasceu Fernando Maurício e, em frente, a casa onde viveu Maria Severa Onofriana. A nossa cidade não é hoje, infelizmente, um espaço urbano de que nos possamos orgulhar. Andar nas suas ruas faz, por vezes, lembrar os célebres relatos de viagens de quem nos visitava e se escandalizava com a falta de higiene, com a porcaria nas ruas, com a imundície. Que diabo, onde páram os carros do lixo, as agulhetas de outrora? Apesar da eterna e invicta vaidade dos edis cuidar de assegurar sempre uma lápide para a posteridade.
(publicado em O Carmo e a Trindade)
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