Imagine o leitor que é um gestor de primeira linha de uma grande cadeia de distribuição europeia, responsável pelas lojas em Portugal. Imagina-se, porventura, que será distinguido como o gestor desse grupo que melhores margens comerciais e lucros consegue obter no conjunto de países europeus onde o grupo está implantado?
Pense bem: está em Portugal, um país declarado oficialmente de tanga desde 2002. O facto do classificador ter emigrado é a melhor prova da penúria pública. Onde habita um povo que todos os anos tem sido chamado a sacrifícios e mais sacrifícios, em nome da redução de uma despesa, a pública, que não há maneira de ser endireitada. Um país cujo povo, diz-se, está endividado por causa da casa, do carro, do computador, das férias. Um país onde os salários, dizem os sindicalistas que não visitam o seu posto de trabalho há vários lustros, descem em termos reais ano após ano. Onde os trabalhadores são acusados de não produzirem, as empresas de não gerirem, os políticos de se servirem… Pense bem: acha realmente plausível obter o prémio? Por outras palavras: acha possível um povo, num país assim, consumir o suficiente para fazer de si o campeão europeu dos lucros dessa rede de distribuição, vulgo supermercados?
Pois claro, a sua resposta, sensata, lógica e prudente deverá ser um óbvio não!
Engana-se, caro leitor. Teria fortes hipóteses de alcançar o almejado prémio. E não, não é filosofia nem prosápia. É mesmo verdade. Existem redes de distribuição europeias onde os gestores que mais vendem são os que estão em Portugal. E esta realidade não admite duas explicações, mas apenas uma: os portugueses são dos europeus que mais consomem. E, em consequência, dos que mais dinheiro dão a ganhar aos empresários da grande distribuição comercial.
Esta realidade aparentemente contraditória, tem sido objecto de reflexão. Um desses responsáveis avançou uma explicação, num encontro que recentemente manteve com outros empresários e responsáveis políticos da Nova Democracia.
Dizia ele que em Portugal todos os jovens têm um objectivo: serem proprietários aos 30 anos. De casa, de carro, de outros bens duradouros. Que esses jovens não admitem sequer a situação transitória dos arrendamentos. Onde antigamente a propriedade era o culminar de uma vida de trabalho, de progresso na carreira e nos rendimentos, hoje tornou-se um ponto de partida e não um ponto de chegada. Para alcançar essa posição de proprietários precoces, sem uma estrutura de rendimento que o permita verdadeiramente, têm necessariamente de se endividar junto da banca.
Tornam-se então ilusórios proprietários de coisa nenhuma. E é assim que aos 40 anos a classe média, de idade e de rendimento, se vê rodeada de dívidas por todos os lados. Para esse gestor, verdadeiramente surpreendido com os elogios que lhe são dirigidos pelos altos responsáveis do grupo pelos resultados que obtém no nosso mercado de 10 milhões de consumidores (as crianças são cada vez mais consumidores por interpostos pais…) essa geração endividada vinga-se dessa situação que ela própria criou, consumindo, consumindo até não poder mais. Usando para tanto o cartão de crédito como sucedâneo da moeda de circulação corrente e recorrendo, se necessário for, a mais e mais endividamento.
É uma teoria com evidentes pontos de contacto com a realidade. Mas que não augura um futuro sadio para o país. Conceber a vida sem esforço, onde tudo se pode resolver e obter instantaneamente e a crédito, é encomendar um caixão financeiro cheio de cores por fora, mas sinistro por dentro. É um futuro eternamente adiado. Esta situação complexa resulta de muitos e variados factores, muitos deles induzidos pela publicidade, pela programação televisiva dos quinze minutos de fama, pela falta de coragem política para enfrentar a situação e por gerações de promessas de sonhos fáceis que não resistem às primeiras 48 horas de Governo.
Este ciclo tornou-se vicioso, porque alimentado em campanhas eleitorais onde se mente para ter votos. Os portugueses tornaram-se campeões mundiais do desta vez é que é. E assim vai vivendo. Até um dia se fartar.
Pense bem: está em Portugal, um país declarado oficialmente de tanga desde 2002. O facto do classificador ter emigrado é a melhor prova da penúria pública. Onde habita um povo que todos os anos tem sido chamado a sacrifícios e mais sacrifícios, em nome da redução de uma despesa, a pública, que não há maneira de ser endireitada. Um país cujo povo, diz-se, está endividado por causa da casa, do carro, do computador, das férias. Um país onde os salários, dizem os sindicalistas que não visitam o seu posto de trabalho há vários lustros, descem em termos reais ano após ano. Onde os trabalhadores são acusados de não produzirem, as empresas de não gerirem, os políticos de se servirem… Pense bem: acha realmente plausível obter o prémio? Por outras palavras: acha possível um povo, num país assim, consumir o suficiente para fazer de si o campeão europeu dos lucros dessa rede de distribuição, vulgo supermercados?
Pois claro, a sua resposta, sensata, lógica e prudente deverá ser um óbvio não!
Engana-se, caro leitor. Teria fortes hipóteses de alcançar o almejado prémio. E não, não é filosofia nem prosápia. É mesmo verdade. Existem redes de distribuição europeias onde os gestores que mais vendem são os que estão em Portugal. E esta realidade não admite duas explicações, mas apenas uma: os portugueses são dos europeus que mais consomem. E, em consequência, dos que mais dinheiro dão a ganhar aos empresários da grande distribuição comercial.
Esta realidade aparentemente contraditória, tem sido objecto de reflexão. Um desses responsáveis avançou uma explicação, num encontro que recentemente manteve com outros empresários e responsáveis políticos da Nova Democracia.
Dizia ele que em Portugal todos os jovens têm um objectivo: serem proprietários aos 30 anos. De casa, de carro, de outros bens duradouros. Que esses jovens não admitem sequer a situação transitória dos arrendamentos. Onde antigamente a propriedade era o culminar de uma vida de trabalho, de progresso na carreira e nos rendimentos, hoje tornou-se um ponto de partida e não um ponto de chegada. Para alcançar essa posição de proprietários precoces, sem uma estrutura de rendimento que o permita verdadeiramente, têm necessariamente de se endividar junto da banca.
Tornam-se então ilusórios proprietários de coisa nenhuma. E é assim que aos 40 anos a classe média, de idade e de rendimento, se vê rodeada de dívidas por todos os lados. Para esse gestor, verdadeiramente surpreendido com os elogios que lhe são dirigidos pelos altos responsáveis do grupo pelos resultados que obtém no nosso mercado de 10 milhões de consumidores (as crianças são cada vez mais consumidores por interpostos pais…) essa geração endividada vinga-se dessa situação que ela própria criou, consumindo, consumindo até não poder mais. Usando para tanto o cartão de crédito como sucedâneo da moeda de circulação corrente e recorrendo, se necessário for, a mais e mais endividamento.
É uma teoria com evidentes pontos de contacto com a realidade. Mas que não augura um futuro sadio para o país. Conceber a vida sem esforço, onde tudo se pode resolver e obter instantaneamente e a crédito, é encomendar um caixão financeiro cheio de cores por fora, mas sinistro por dentro. É um futuro eternamente adiado. Esta situação complexa resulta de muitos e variados factores, muitos deles induzidos pela publicidade, pela programação televisiva dos quinze minutos de fama, pela falta de coragem política para enfrentar a situação e por gerações de promessas de sonhos fáceis que não resistem às primeiras 48 horas de Governo.
Este ciclo tornou-se vicioso, porque alimentado em campanhas eleitorais onde se mente para ter votos. Os portugueses tornaram-se campeões mundiais do desta vez é que é. E assim vai vivendo. Até um dia se fartar.
(publicado no nº 7 da revista Nova Vaga)
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