Era de prever que o episódio da professora, da aluna e do telemóvel descambasse numa intifada política, prenhe de ruído mas oca de debate. A última moda da oposição decrépita é culpar a política da ministra pelo incidente. Ninguém fala dos pais que abdicam de educar os filhos porque acham que a sua função deve ser substituída pelo Estado, "porque pagam impostos para ter educação", como há dias um pai, como eu, me dizia. Ninguém fala dos milhares de desiludidos que foram para professores sem saber ler nem escrever, porque "não tinham mais nada a que se agarrar", como me dizia um amigo meu há dias. Ninguém fala nas três décadas de bandalheira disciplinar com que todos os Governos pactuaram com medo da impôr a autoridade. Não. A culpa é da ministra. Logo, chama-se a senhora ao Parlamento para dar explicações, como se a ministra fosse aluna lá da turma da deprimida criança que vergastou a pobre professora (já agora, Sr. Presidente da República, como vivemos na condecoralandia, tenha um rasgo e condecore esta professora no dia 10 de Junho; sempre era uma maneira de se redimir um bocadinho de ter sujeito o país à tortura de ter tido Roberto Carneiro como ministro da pasta). E quem tomou a dianteira da chamada da ministra às explicações parlamentares? O CDS, pois claro. Esse partido que virou caso de polícia e que teve no penúltimo Governo duas nulidades políticas nas secretarias de Estado da Educação, sem que tenham mexido uma palha para pôr ordem no desvario da 5 de Outubro. Assim decorre o momento político pascal. A moça entregue aos devaneios dos pedopsiquiatras. A professora talvez a caminho de uma baixa prolongada. E os deputados a precisarem de enfrentar uma turma daquelas e depois, sim, tentarem chamar a ministra, para então poderem falar do que sabem de experiência própria. Segue a pedrada política, já que competência e coragem para ir ao fundo do problema ninguém está para se maçar a ter.
sábado, março 22, 2008
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3 comentários:
-O problema não é desta ministra, nem deste governo, mas de todos os que tiveram responsabilidades na matéria, pelo menos nos últimos 30 anos, julgo que até seja mais do que isso. Mas o actual governo, como todos os outros, não fez muito para mudar o estado da educação.
Muito bem!
Carlos Vidal
O mal é esse...a abstenção dos pais no que concerne a educação dos filhos.
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