"Foram anos a libertar-se desse passado em Couvadoude, Rapoula, Valhelhas… e agora as fotografias das casas caíam em plena Lisboa. Quem pode falar de modelo finlandês ou de MIT quando fez projectos para casas de emigrantes em Covadoude? É a estética do poder e não a ética da política aquilo que preocupa Sócrates.Na verdade Sócrates sabe que os portugueses já viram o que tinham a ver sobre o seu actual primeiro-ministro. As revelações em torno da sua vida académica, a governamentalização da CGD, as trapalhadas da OTA, a aprovação com carácter de urgência do Código de Processo Penal… nada disso indignou verdadeiramente a Pátria. Na verdade fê-la sorrir. E o que Sócrates teme acima de tudo é que esse sorriso, apesar de tudo ainda eivado de indiferença, se transforme em riso algures entre o desdém e a histeria.E convenhamos que a casinha de Valhelhas tem material estético suficiente para tirar a Sócrates o que ele mais preza: essa espécie de patine que transformou um rapaz esperto da província num líder que diz, sem rir, que se está a fazer História."
Helena Matos, no Blasfémias.
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