sexta-feira, dezembro 21, 2007

(1897) ESTAMOS TRATADOS

Uma vez que Belmiro de Azevedo decretou que estamos tratados, isto é, que não vale a pena mexer mais no assunto do novo “Tratado Complicado”, porque está tudo “decidido”, confirmado que está que o CDS é o terceiro pilar federalista do sistema partidário português, pois decidiu que vota sim ao “Tratado Complicado”, da mesma forma que no Governo tinha apoiado a Constituição europeia agora reeditada com novo papel de embrulho, é melhor falar de educação.

Não sei por que raio de sortilégio me surgiu esta associação de ideias, mas surgiu. Talvez por se ter sabido esta semana que mais de 120.000 alunos chumbaram no ensino básico, isto, naturalmente sem contar com os que transitaram através de um Despacho ministerial que manda passar os alunos que não tendo notas para o fazer, se considera que no ano seguinte poderão vir a ter. É um despacho ministerial que tem o óbvio propósito de engordar artificialmente as estatísticas do sucesso educativo, que o PS gosta tanto de exibir, como se as pessoas fossem apenas números.

No fundo temos é um grande Governo, cheio de rasgo e de estratégia. Apesar de o Primeiro-Ministro ser um provinciano, como ele próprio reconhece (aqui para nós, o “pessoal” por cá já tinha essa suspeita…), isto está tudo muito bem pensado. Os 120.000 alunos que não passaram no ensino básico são a matéria-prima de que se alimenta o programa das Novas Oportunidades. O que seria deste programa se passassem todos? No fundo, o sucesso está garantido. O sucesso ou acontece no ensino básico ou acontece no programa.

Mais uma vez, seja por onde fôr, estamos tratados. O Governo trata de tudo. Só é pena que estejamos todos cada vez mais mais pobres. De 1995 para cá, com cerca de dez anos de PS no Governo, com a pontual mas prestimosa ajuda do CDS e do PSD, o PIB vai perdendo terreno, o poder de compra vai perdendo terreno, o desemprego vai aumentando, os impostos vão aumentando e o país, em geral, empobrecendo. Mas lá está. O salário mínimo garantido vai ter um aumento verdadeiramente socialista, isto é, à grande. Mais uma vez o Governo trata de nós. Os indicadores descem, mas o ordenado sobe.

Tudo isto é crueza a mais para a quadra natalícia, bem sei. O que salva isto é a lei do tabaco e a ASAE. No fundo, muito lá no fundo, somos um país moderno. Cheios de vídeo-vigilância e só com partidos grandes, empanturrados de militantes. O resto não conta. Ou melhor só conta para os não provincianos. Uns chatos, é o que é. Afinal de contas, estamos tratados, o que poderíamos ambicionar mais?
(publicado na edição de hoje do Semanário)

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