sexta-feira, julho 06, 2007

(1256) ICH BIN UM POLACO



(Tirada daqui)

Segundo relatos informais, obviamente não publicados na imprensa ordeira e atarefada, os representantes da Polónia na última cimeira europeia terão sido pressionados, o que é legítimo, mas também ameaçados e mesmo insultados (ao que leio em Pacheco Pereira na edição de ontem desta semana da revista Sábado), com activa participação do Primeiro-Ministro português, no sentido de aceitarem, a bem ou a mal, aquilo que os outros queriam que a Polónia aceitasse. Tal teria sido relatado ao articulista por político polaco presente no arraial.

Claro que os polacos já foram crucificados como os maus europeus, sem que nós saibamos muito bem quais os pontos de vista que defenderam e as posições concretas que tomaram na cimeira. Mas nesta Europa é sempre assim. É tudo segredo. As ideias feitas são passadas à comunicação social para fazerem o seu caminho de propaganda intensiva no sentido de tentar moldar a realidade, mesmo que a realidade faça o seu caminho, surda e indiferente à propaganda. Como, aliás, tem feito.

Por cá, esta semana, todos nós nos descobrimos um pouco polacos, através de um episódio que revela bem a natureza trituradora da concepção dominante nos Governos sobre o modo de fazer as coisas.

Jaime Silva é o actual ministro da Agricultura. Convém recordar que se trata de um típico burocrata bruxelense, imbuído de todo o argumentário oficial sobre as verdades construídas em Bruxelas para vender nos Estados membros. A crer na sua biografia constante do portal do Governo (o que, como se sabe, não constitui garantia de rigor no que toca a biografias de governantes) Jaime Silva já foi Administrador Principal na Direcção Geral Empresas e Indústria (Unidade Indústria Alimentar) da Comissão Europeia, já foi Coordenador das Negociações Comerciais, Bilaterais e Multilaterais no domínio Agro-Industrial, já foi Conselheiro Principal na Representação Permanente de Portugal na União Europeia (Bruxelas) - 2001-2002 e já foi Porta-voz no Comité Especial de Agricultura do Conselho de Ministros da Agricultura, responsável pela coordenação das questões agrícolas e fito-sanitárias.

Esta semana, perante pescadores portugueses que contestavam a política de pescas europeia, o ministro, exuberantemente enfastiado, respondeu-lhes com o argumento final de quem não sabe ou não quer discutir a substância dos problemas e das políticas: "então peçam para sair da União Europeia" e voltou as costas. As imagens são reveladoras: mostram o desprezo do burocrata promovido a representante de uma soberania perante o atrevimento de quem nunca andou pelos corredores da Comissão Europeias, mas sempre deu o coiro e o cabelo a trabalhar duro para ganhar o pão de cada dia. É preciso que se perceba que todos nós, os que ousam discordar da substância das políticas europeias, não passamos de meros polacos para os delegados da Federação em cada reserva nacional.

Assim vai Portugal, assim vai a Europa. Mal. Muito mal.

(publicado na edição de hoje do Semanário)

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