quinta-feira, dezembro 28, 2006

(166) CONTAS DE SUMIR


O ano de 2007 terá 365 dias. Desses, 52 são sábados, 52 são domingos, 14 são feriados nacionais, 1 será feriado municipal. Como 4 feriados nacionais calham em fins de semana, o ano que vem terá 254 dias úteis. Destes, 22 são de férias, 1 será tolerância de ponto (terça-feira de Carnaval). Se se repetir o que sucedeu em 2006, haverá tolerância de ponto na quinta-feira santa e no dia a seguir ao Natal. Por força do calendário haverá 5 pontes directas, resultantes de feriados à terça ou à quinta. Sobram assim 225 dias de trabalho.

Em 2007 cada português terá um dia de descanso por cada 1,60 dias de trabalho. Isto sem contar os jeitos frequentes que se fazem, as baixas médicas, as doenças ocasionais, as faltas justificadas por razões familiares, as greves, tantas vezes marcadas para proporcionar mais pontes e dias de inactividade do que aqueles que resultam directamente dos conflitos colectivos de trabalho. Eis-nos no âmago do modelo social europeu. Pela Europa desenvolvida mas deficitária, em que Portugal se inclui, este assunto é intocável. A dinâmica reivindicativa vai no sentido de trabalhar cada vez menos e ter cada vez mais tempo de descanso. O que obviamente encarece o custo dos bens e serviços com que pretendemos competir no chamado mercado global. Mais, a mesma dinâmica reivindicativa exige que o tempo de descanso seja cada vez melhor remunerado, como se de trabalho efectivo se tratasse. Esta é uma espiral que terá necessariamente um fim. Esperemos que não seja um fim de sumir.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)

1 comentário:

Filipe Tourais disse...

Será o problema de Portugal o excesso de feriados e de férias? Não creio, o nosso problema é sobretudo de gestão e de organização.
Quanto ao conceito de produtividade, note que é o output a dividir pelo número de horas trabalhadas. Assumindo como válida a premissa de que quanto mais dias de trabalho, maior o cansaço e menor a produtividade marginal por cada dia suplementar de trabalho, aumentando o denominador, diminui a produtividade.
Outro argumento será o do consumo acrescido proporcionado por mais horas de lazer: sem consumo, não há mercado interno, sem mercado interno, diminui o emprego e o investimento.


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